BRASÍLIA – O governo já descartou a possibilidade de editar uma Medida Provisória (MP) com o aumento para as carreiras dos policiais federais até 2 de abril, próximo sábado, quando se esgota o prazo para reajustes salariais acima da inflação antes das eleições, apurou o Estadão/Broadcast. Pesou na decisão a iminência de uma greve geral no Banco Central (BC) por aumento de salários. Os funcionários do Tesouro também aprovaram cruzar os braços em dois dias para pressionar por reajustes e os da Receita Federal se mobilizam por bônus à categoria.
A lei eleitoral estabelece que reajustes na remuneração de servidores públicos para além da recomposição das perdas salariais estão vedados nos seis meses anteriores às eleições. Como o primeiro turno deste ano está marcado para 2 de outubro, o Executivo teria até o próximo sábado para editar uma MP com aumento de salário acima das perdas salariais, como reivindicam os policiais federais.
A categoria tem pressionado o presidente Jair Bolsonaro (PL) a anunciar uma reestruturação nas carreiras. O chefe do Executivo prometeu a medida e tem grande interesse em anunciá-la, de olho no apoio dos profissionais da segurança pública nas eleições deste ano. Não à toa, o Orçamento de 2022 tem uma reserva de R$ 1,7 bilhão para o reajuste, embora a verba não seja “carimbada” para tal finalidade.
Ontem, o ministro da Justiça, Anderson Torres, reuniu representantes das polícias para conversar sobre o tema e tentar acalmar os ânimos e, segundo relatos, explicou que Bolsonaro não poderia anunciar o reajuste neste momento em razão da iminência de uma greve geral no Banco Central.
Com remuneração anual entre R$ 380,38 mil (auditores da Receita) e R$ 341,1 mil (analista do BC) e salário médio entre R$ 26,2 mil e R$ 29,3 mil, essa elite do funcionalismo puxou a fila da articulação política de mobilização depois que o presidente acenou com aumento só para categorias policiais.
Conforme mostrou a reportagem, os servidores da autarquia aprovaram em assembleia o início de uma greve, por tempo indeterminado, a partir de 1º de abril, mas já têm feito paralisações diárias de quatro horas, das 14h às 18h, desde 17 de março.
Campos Neto vai receber hoje o Sindicato Nacional de Funcionários do BC (Sinal), a Associação Nacional dos Analistas do BC (ANBCB) e o Sindicato Nacional dos Técnicos do BC (SinTBacen).
O Sindicato Nacional dos Auditores e Técnicos Federais de Finanças e Controle (Unacon Sindical) decidiu em assembleia hoje que os servidores do Tesouro Nacional paralisarão os trabalhos na sexta-feira, 1º de abril, e na próxima terça-feira, 5. A categoria também deve votar na próxima terça a possibilidade de greve por tempo indeterminado. O presidente da Unacon, Braúlio Santiago, afirmou ao Estadão/Broadcast que que os servidores do Tesouro decidiram postergar a divulgação de alguns relatórios.
Um ato público dos auditores da Receita em frente ao Ministério da Economia está marcado para hoje. Participarão da manifestação lideranças das 82 Delegacias Sindicais do Sindifisco Nacional e representantes dos Comandos de Mobilização de todo o país, que cobrarão do ministro Paulo Guedes a recomposição do orçamento da Receita Federal, a realização de concursos públicos para repor e a regulamentação da lei que garante bônus extra à categoria relacionado ao desempenho.
Foto: Folha UOL